segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O PIM NA ENCRUZILHADA

Conversei com os dirigentes destas empresas [Samsung e LG]. Fui duro com eles e pedi audiência com os donos. Não é justo que eles sejam incentivados pelo Amazonas e, na primeira dificuldade, queiram pular fora do barco.
(Gov. Eduardo Braga)

Breno Rodrigo de Messias Leite

Ao contrário do nosso “justo” governador do Amazonas (AM), não vou defender o indefensável. Não pretendo exaltar um modelo de desenvolvimento capitalista-dependente que está fadado ao fracasso e as contradições do próprio capital.

É muito conveniente para alguns políticos, empresários e até setores do operariado sindicalizado fazerem devaneios metafísicos favoráveis ao “nosso” Pólo Industrial de Manaus, PIM, à medida que tal “modelo de desenvolvimento” é um forte “estimulador de investimento externo direto”; que promove “novos postos de trabalho para a região”; que patrocina a “industrialização”; ou como, em recente entrevista do dep. fed. Sabino C. Branco (PTB), “representa 90% da economia do Estado”, entre outras bobagens e mentiras...

Acontece que se observarmos bem, o PIM, além de não promover plenamente os princípios apontados acima, é apenas o reflexo das contradições gerais do capitalismo-dependente que cria e recria ilhotas de (sub)desenvolvimento dos centros econômicos, e que podem desaparecer da noite para o dia – o fenômeno do overnight – sem dar a mínima satisfação à população local.

Hoje, o Estado brasileiro em todas as suas instâncias de representação não dispõe de forças capazes de viabilizar o desenvolvimento regional. O Estado está falido, endividado e desestruturado. Não tem poder de barganha para dizer aos capitalistas do Japão, da Coréia, da Suécia etc., o que deve fazer com o seu capital. Se ele não puder investir no Brasil vai para outro canto do planeta: o que não falta neste mundo decadente é mão-de-obra barata e abundante. Aliás, como já disse o inimigo nº 1 do PIM, o tucano José Serra, o Brasil não é o centro do universo.

Por isso, pretendo apontar algumas razões para a miséria econômica e a inviabilidade política do PIM no Amazonas. Vamos os fatos:

1. o modelo PIM não propiciou uma distribuição de riqueza no Estado e na região. Pelo contrário, concentra e centraliza seu capital em Manaus e, assim, atrai a população do interior e de outros Estados. É uma combinação de esvaziamento do campo-periferia e acumulação de miséria na cidade-centro;

2. o modelo não criou um forte mercado consumidor interno, que possibilite a circulação da renda ao longo da atividade econômica;

3. o modelo não desenvolveu uma matriz de desenvolvimento científico-tecnológico. Não temos centros de excelência e as Universidades não estão preparadas para tal empreitada;

4. o modelo não condiciona melhorias substantivas à classe trabalhadora, em termos de elevação real dos salários e da renda, condizentes com a inflação e com a pujança das indústrias. Na realidade, o que existe é a precarização do trabalho, tanto na produção, quanto na relação sindical – reflexos da reestruturação produtiva;

5. modelo proporciona um crescente índice de desempregados e empregos instáveis. Segundo notícia da Folha de S. Paulo (2006) “fabricantes de celulares e de televisores demitiram centenas de trabalhadores nos últimos dias em Manaus”, e a razão para isso é simples: “mudança tecnológica” e “guerra fiscal”;

6. inalmente, o modelo não criou uma infra-estrutura capaz de estimular a urbanização. A cidade de Manaus, na verdade, embora esteja cercada pela maior bacia hidrográfica do mundo, sequer tem água em todas as torneiras. A urbanização típica de uma cidade industrial é inexistente.

Diante desse quadro adverso, precisamos de uma visão de futuro, menos pragmática e mais utópica: um projeto econômico, um progresso avançado de ciência e tecnologia, um modelo de desenvolvimento com inclusão e socialização da riqueza. Penso de deveríamos defender projetos, ao invés de “defende” com unhas e dentes um modelo factóide dependente do capital externo, que tem seus dias contados.

Não quero ser alarmista, mas pode-se redirecionar o projeto para algo mais racional e sustentável. Enquanto os “nossos” políticos ficam nessa autopromoção “em nome dos interesses da população”, saibam, desde já, que estão defendendo um capitalismo colonialista, dependente e periférico. A independência econômica deve estar irmanada à independência política e social. E nesse sentido, pensar a Amazônia é integrá-la num todo estruturado, onde as possibilidades de um novo modelo econômico criativo são viáveis. O desafio está lançado. Mas quem tem peito para colocá-lo na prática?

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